Recentes acontecimentos políticos, como a derrota dos governistas na França e Grécia, indicam que a tolerância do público com políticas econômicas que não reduzem o desemprego implodiu. De fato, tendo em vista a atual situação alarmante na economia e no emprego em muitos países e a falta de perspectivas de recuperação no horizonte, há probabilidades de mais turbulências políticas à frente, a menos que as autoridades mudem de rumo de forma condizente.
A crise econômica eliminou mais de 50 milhões de empregos, na sequência de anos de aumento na desigualdade e de crescimento econômico baixo e pobre em geração de empregos nos países mais ricos. Desde 2007, os índices de emprego subiram em apenas seis entre 36 economias avançadas, enquanto o desemprego aumentou na grande maioria tanto dos países emergentes como dos já consolidados.
No curto prazo, a crise mundial deverá tornar-se pior, já que muitos governos, especialmente nas economias avançadas, priorizam a austeridade fiscal e reformas rigorosas no mercado de trabalho, mesmo que essas medidas corroam a renda, meios de vida e o tecido social.
Paralelamente, apesar da flexibilização monetária quantitativa, muitas empresas veem-se com acesso limitado ao crédito, o que contém investimentos e reduz a criação de empregos. O crédito fácil antes da crise encorajou o excesso de investimentos em setores que se imaginavam lucrativos, como o imobiliário. Não é de surpreender que o excesso de capacidade resultante agora desencoraje os investimentos privados na economia real.
Com o aumento da desigualdade e o desemprego e o encolhimento da renda e dos mercados domésticos, todos esperam recuperar-se exportando – uma solução obviamente impossível. Os países em desenvolvimento, por muito tempo encorajados e até pressionados a exportar e aderir à globalização, foram aconselhados repentinamente a mudar de direção: a produzir para o mercado doméstico e importar mais. A ironia é que esse conselho chega quando boa parte de sua antiga capacidade produtiva desapareceu.
Muitas economias de mercados emergentes, no entanto, depois de várias crises no câmbio e nas contas de capitais em tempos de maior abertura, ainda se sentem inclinadas a acumular reservas internacionais gigantescas como forma de proteção diante da maior volatilidade financeira mundial. Enquanto isso, o “espaço de políticas” nacionais para recuperar as economias encolheu desde a crise.
Investimentos públicos e proteções sociais básicas podem ajudar a mudar isso, criando milhões de empregos. Apesar das fortes evidências em contrário, no entanto, a suposição de que o investimento público tira de cena o capital privado continua a desencorajar esforços de recuperação econômica encabeçados por governos.
Na verdade, historicamente, as economias mais avançadas já viveram com déficits fiscais bem maiores do que os atuais, e não apenas em tempos de guerra. Esses déficits financiaram expansões sólidas, sustentáveis e inclusivas, não apenas para suas próprias economias, mas também para o exterior – como o Plano Marshall nos Estados Unidos, tão importante para a reconstrução e recuperação europeia do pós-guerra.
Agora, contudo, como a transferência avassaladora de recursos financeiros dos governos para salvar determinadas instituições privadas consideradas grandes demais para falir levou a um aumento drástico no endividamento soberano, as autoridades impuseram a austeridade fiscal em deferência às exigências dos mercados de bônus. Enquanto isso, os países da região do euro veem-se restringidos, não apenas por seu fetiche fiscal, mas também por sua falta de flexibilidade no câmbio.
Além disso, a cooperação multilateral em favor da recuperação mundial vem sendo decepcionante desde 2009 – o ano dos encontros do G-20 em Londres e Pittsburgh e do Pacto Mundial pelo Emprego *, que trouxe poucos progressos significativos desde então. Como resultado, os últimos três anos testemunharam poucas ações orientadas ao desenvolvimento e adoção de estratégias que tragam uma recuperação sólida, sustentável e inclusiva. Em vez disso, vimos emergir um protecionismo gradual, e não apenas no front do comércio exterior.
Como, então, o mundo pode escapar desse beco sem saída construído pelas perspectivas de curto prazo dos mercados financeiros e da política eleitoral?
Embora o multilateralismo inclusivo tenha sido abalado por vários desafios, incluindo sua aparente desordem e progresso lento, continua como a melhor opção, por vários motivos. O sistema da Organização das Nações Unidas (ONU) precisa ser mais proeminente, mas interesses poderosos também precisam permitir que desempenhe um papel maior.
Em 2009, admitindo que apenas as forças de mercado não iriam gerar os investimentos necessários para atenuar as mudanças climáticas assim como alimentos acessíveis para todos, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon propôs um “New Deal Verde Mundial”, com parcerias público-privadas e entre países, especialmente para gerar energia renovável e aumentar a produção sustentável de alimentos.
Sob a recente liderança francesa, o Fundo Monetário Internacional (FMI), depois de décadas promovendo a globalização e a liberalização econômica – especialmente financeira -, tornou-se mais cuidadoso, se não cético, quanto às suas análises, prescrições e atividades prévias. Da mesma forma, iniciativas recentes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – como a Globalização Justa**, o Pacto Mundial pelo Emprego e o Piso de Proteção Social*** – são diretamente relevantes, todas, para lidar com a estagnação atual.
A estrutura única da OIT entre as organizações internacionais, de inclusão de trabalhadores e empregadores como parceiros sociais em sua governança tripartite lhe permite ajudar a liderar os processos, certamente complicados, necessários para assegurar um crescimento e uma recuperação sólidos, sustentáveis e inclusivos. Portanto, talvez mais do que nunca nas últimas décadas, as instituições multilaterais inclusivas agora estão na mesma página. Seus esforços precisam, agora, do apoio que merecem.
Jomo Kwame Sundaram: Author
Haroldo Wittitz: Editor and Publisher
A new “New Deal” world
Recent political events as the defeat of the government supporters in France and Greece, indicate that the tolerance of the public with economic policies that do not reduce unemployment imploded. In fact, in view of the current alarming situation in the economy and employment in many countries and the lack of prospects for recovery on the horizon, there is a likelihood of more political turmoil ahead unless the authorities to change course so consistent.
The economic crisis has eliminated more than 50 million jobs, following years of increase in inequality and low economic growth and job creation in poor countries richer. Since 2007, employment rates rose in only six of 36 advanced economies, while unemployment rose in the vast majority of both emerging as the already consolidated.
In the short term, the global crisis will become worse, since many governments, especially in advanced economies, prioritize the strict fiscal austerity and reforms in the labor market, even if these measures erode income, livelihoods and social fabric.
In addition, despite the quantitative monetary easing, many companies find themselves with limited access to credit, which contains investments and reduces job creation. The easy credit before the crisis encouraged excessive investment in sectors that are profitable thought, such as real estate. Not surprisingly, the resulting excess capacity now discourage private investment in the real economy.
With the increase in inequality and unemployment and shrinking incomes and domestic markets, everyone expects to recover by exporting – an obviously impossible solution. Developing countries, long encouraged and even pressured to join the export and globalization, have been advised to suddenly change direction, to produce for the domestic market and import more. The irony is that this advice comes as much of its former production capacity disappeared.
Many emerging market economies, however, after several crises in foreign exchange and capital accounts in times of greater openness, still feel inclined to accumulate huge foreign reserves as a means of protection against the largest global financial volatility. Meanwhile, the “policy space” to recover the national economy has shrunk since the crisis.
Public investment and basic social protections can help change that, creating millions of jobs. Despite strong evidence to the contrary, however, the assumption that public investment takes the scene continues to discourage private capital for economic recovery efforts led by governments.
In fact, historically, the most advanced economies have lived with fiscal deficits far higher than today, not just in times of war. These deficits financed expansions solid, sustainable and inclusive, not only for their own economies, but also abroad – as the Marshall Plan in the United States, so important to the recovery and reconstruction of postwar Europe.
Now, however, overwhelming as the transfer of financial resources from governments to save certain private institutions considered too big to fail led to a drastic increase in sovereign debt, the authorities have imposed fiscal austerity in deference to the demands of the bond markets. Meanwhile, the eurozone countries find themselves constrained not only by his fetish for tax purposes, but also for its lack of flexibility in exchange rates.
Furthermore, multilateral cooperation in favor of the global recovery has been disappointing since 2009 – the year of the G-20 meetings in London and Pittsburgh and the Global Jobs Pact *, which brought little progress since then. As a result, the last three years have seen little action directed toward the development and adoption of strategies that bring a solid recovery, sustainable and inclusive. Instead, we have seen gradually emerging protectionism, not only in front of foreign trade.
How then can the world escape this dead end built by short-term outlook of financial markets and electoral politics?
Although the inclusive multilateralism has been rocked by several challenges, including its apparent disorder and slow progress, remains the best option for several reasons. The system of the United Nations (UN) needs to be more prominent, but must also allow powerful interests to play a bigger role.
In 2009, assuming that market forces alone would not generate the necessary investment to mitigate climate change as well as affordable food for all, the Secretary-General Ban Ki-moon has proposed a “Global Green New Deal”, with partnerships public-private and between countries, especially to generate renewable energy and increase sustainable food production.
Under the recent French leadership, the International Monetary Fund (IMF), after decades of promoting globalization and economic liberalization – particularly financial – has become more cautious if not skeptical, about their analyzes, prescriptions and previous activities. Likewise, recent initiatives by the International Labour Organization (ILO) – as ** Fair Globalization, the Global Compact for Employment and Social Protection Floor *** – are directly relevant, all to deal with the current stagnation.
The unique structure of the ILO between international organizations, including workers and employers as social partners in its tripartite governance allows you to help lead the way, certainly complicated, necessary to ensure growth and a solid recovery, sustainable and inclusive. Therefore, perhaps more than ever in recent decades, inclusive multilateral institutions are now on the same page. Their efforts must now support they deserve.