Depois de ter fundado o PayPal, a Tesla e a SpaceX, o empresário quer popularizar a energia solar no planeta – e pode conseguir
O posto de visionário número 1 do mundo corporativo permanecia vago desde outubro de 2011, quando Steve Jobs o abandonou. O cargo, porém, foi devidamente ocupado no mês passado pelo bilionário Elon Musk, que está entre as cem pessoas mais ricas do mundo. Há tempos, as empreitadas do sul-africano, radicado há duas décadas nos Estados Unidos, chamam a atenção. Não é para menos. A lista de empresas que criou, além de extensa, tem uma natureza espetacular. Na internet, Musk foi um dos fundadores do PayPal, o popular serviço de pagamentos online. Ao lançar a Tesla, fez com que os veículos elétricos perdessem aquele jeitão de carrinhos de golfe (ou ovos sobre rodas) e se transformassem em cobiçados superesportivos. Na SpaceX, realizou uma façanha que, até então, soava elusiva para qualquer startup – construir e lançar, do zero, foguetes rumo ao espaço. Agora, o empresário deu um novo passo instigante, desta vez sobre o universo da energia renovável.
Em 30 de abril, Musk atraiu perto de mil jornalistas a um evento em Hawthorne, na Califórnia, em um dos escritórios de suas empresas. Aos 43 anos, pinta de bom moço com um toque de nerd, ele apresentou a Powerwall, uma bateria que armazena a energia captada por painéis solares em residências. Ela parece um armário estiloso, feito para ser pendurado nas paredes das garagens, como uma escultura abstrata. São coloridas (vermelha, branca, azul, além de cinza e preta) e custam entre US$ 3 mil, com 7 quilowatts hora (kWh) e US$ 3,5 mil (10 kWh). Há ainda uma versão comercial, a PowerPack, semelhante a uma geladeira, de 100 kWh. Todas têm dez anos de garantia e suas patentes foram abertas por Musk.
Pois as baterias – objetos, à primeira vista, de interesse nulo para as massas – foram um baita sucesso de audiência. As vendas só começam no segundo semestre nos Estados Unidos e, em 2016, no resto do mundo. Mas, na semana seguinte ao anúncio, o modelo para residências recebeu 38 mil reservas de pessoas interessadas em adquiri-las. A versão comercial foi alvo de outras 2,5 mil intenções de compra. Como muitos consumidores queriam mais de um aparelho (eles podem ser usados em módulos de até nove baterias), a Bloomberg estimou que havia um total de 80 mil pedidos de peças, o que geraria uma receita de US$ 800 milhões. Mantido esse ritmo, a novidade de Musk alcançaria US$ 1 bilhão em vendas mais depressa do que o iPhone ou o Viagra. Claro que esses números embutem uma camada de gordura cuja espessura ainda não pode ser aferida. Isso porque as reservas não se convertem necessariamente em negócios. Ainda assim, o rebuliço foi considerável. “Aconteceu uma loucura”, disse Musk. “Houve uma demanda assombrosa.”
A chave para um futuro renovável
E por que tanto barulho? Por uma razão ambiental. As baterias representam a chave que pode expandir e tornar comercialmente viável o uso da energia solar no planeta. Hoje, o grande problema dessa fonte renovável (assim como o da eólica) é o descasamento entre as fases de captação e utilização. Os painéis fotovoltaicos trabalham a mil por hora durante o dia, sob o Sol, quando há baixo consumo de eletricidade. São inúteis à noite, contudo, justo no momento em que a demanda é mais elevada. As baterias unem essas pontas – eliminam esse vale. Elas armazenam a carga, tornando-a disponível na hora certa. Assim, o potencial embutido nos novos aparatos de Musk é extraordinário. Na apresentação do produto, na Califórnia, ele disse que, com 2 bilhões de módulos de 100 kWh, seria possível manter constante o suprimento de energia solar e abastecer o consumo de todo o planeta. “Parece muito?”, indagou. “Temos dois bilhões de veículos automotores rodando no mundo e renovamos essa frota a cada 20 anos. Por que não podemos produzir 2 bilhões de baterias com esse propósito?”
Simples, assim? Nem tanto. As novas baterias, que utilizam a marca Tesla, com tecnologia de íon de lítio, similar à dos computadores e dos celulares, arrancaram suspiros da torcida, mas críticas também. Algumas delas vieram de Robert Armstrong, professor do MIT Energy Initiative, autor do livro Game Changers – Energy on the Move (“Tecnologias vencedoras – A energia em movimento”, sem versão em português). Armstrong acredita que a eficiência das baterias ainda é baixa e o preço, alto pelo que entregam. “Os clientes de Musk só se tornariam independentes à noite, após um bom dia de Sol”, disse o pesquisador a NEGÓCIOS. “Mas não se livrariam de problemas caso ocorra uma queda de energia mais prolongada.” Ainda assim, ele reconhece: “A Powerwall não é uma revolução, mas representa uma evolução”.
“Minha mente funciona como a de um samurai. Eu preferiria cometer harakiri a fracassar”
Esse avanço citado por Armstrong deu-se nos campos técnico, prático e estético. Se o preço dos modelos de Musk ainda não é o ideal, as concorrentes estão em pior situação. Um equipamento da empresa JuiceBox, por exemplo, entrega 4,3 kW de energia contínua e custa US$ 9,9 mil. O modelo mais barato da Tesla fornece 2 kW, mas vale US$ 3 mil. O par, o que seria suficiente para realizar o mesmo serviço da rival, sairia por US$ 6 mil. A Powerwall é ainda do tipo plug & play, programada por um software, e simples de usar. Na verdade, o design todo ajuda. “O Musk lançou um produto que as pessoas querem ter”, diz Camila Ramos, diretora da consultoria Clean Energy Latin America, especializada em orientar investidores desse setor. “Ele parece ter feito com a energia solar o que o Steve Jobs fez com os computadores, transformando-os em objetos do desejo. Agora, ter baterias em casa será bacana, cool, como dizem os americanos, principalmente em lugares como a Califórnia.”
Um renascentista com a cabeça em Marte
O sentido exato das novas baterias da Tesla, na verdade, é que elas apontam um caminho, abrem um novo filão de mercado, como quase todas as iniciativas do empresário sul-africano. Elon Musk não pode ser definido como um tipo comum de empreendedor. Tomando como referências as últimas duas décadas, a maioria dos jovens crânios que povoam o Vale do Silício e os campi das principais universidades americanas passou anos queimando neurônios para conectar amigos de escola (Zuckerberger, no Facebook) ou permitir que as pessoas se manifestassem em 140 caracteres (John Dorsey, Biz Stone e outros, no Twitter). Essas inovações tiveram um impacto monumental no comportamento da sociedade. As barreiras que Musk se propõe a superar, contudo, são de outra envergadura. Ele tem uma mente com um inegável pendor renascentista.
Elon Musk diz ter duas grandes metas no reino deste mundo. (Uma advertência: os céticos devem parar de ler esta reportagem aqui. Pela frente, vem chumbo grosso, sob a forma de utopias.) Um dos alvos do empresário é viabilizar o uso da energia solar como fonte renovável no planeta. Ele sabe que, se toda a radiação do Sol que atinge a Terra em um único dia virasse eletricidade, seria possível saciar a sede por energia do planeta por quase três décadas seguidas. Por que isso não é feito? Muitos motivos. Um deles é a incapacidade de armazenar esse potencial com eficácia. Daí, a lógica das baterias e dos veículos elétricos.
O outro alvo do empreendedor é abrir o caminho para que o homem coloque os pés em Marte. Ele diz que deseja transformar os seres humanos em uma espécie multiplanetária. Quer iniciar a ocupação do Planeta Vermelho em menos de duas décadas. Daí, os investimentos na indústria espacial por meio da SpaceX. “Devemos ir para Marte por dois bons motivos”, afirmou. “Um deles é a segurança, para preservar a vida, que pode terminar por uma catástrofe qualquer. O outro é que essa será a nossa maior aventura.”
Considerados somente os sonhos, é óbvio que um retrato de Musk deveria ser pendurado na galeria dos maiores malucos-beleza do mundo corporativo – ou na seção de marqueteiros espertinhos. O problema é que esse diagnóstico não se aplica a Elon Musk. Ele acumula realizações espetaculares, conquistadas com os pés bem cravados no chão. Tanto na energia renovável como na exploração espacial, ele puxou a fila, acelerou processos, como uma espécie de Cristóvão Colombo dos negócios. Um dos resultados mais inquestionáveis da eficácia do empresário é a sua fortuna, estimada em US$ 13,3 bilhões. Musk ocupa a 100ª posição no ranking de bilionários da Forbes. Em 2014, estava em 158º lugar. E desde sempre emitiu sinais de que alçaria grandes voos.
O “Genius Boy”
Elon Reeve Musk nasceu em Pretória, na África do Sul, em 28 de junho de 1971. Filho de um engenheiro, Errol, e Maye, uma modelo canadense, tem dois irmãos, Kimbal, com quem abriu os primeiros negócios, e Tosca – como na ópera de Puccini. Seu apelido de infância era sugestivo: “Genius Boy”. A partir daí, pode-se imaginar uma infância um tanto nerd, não raro ridicularizada pelos colegas de escola? Pois foi isso mesmo o que aconteceu.
Ainda garoto, aos 12 anos, Musk, que lia compulsivamente, escreveu e vendeu o seu primeiro videogame, o Blaster, por US$ 500, para uma revista especializada em computadores. Desde então, cultiva um hábito que levou para a vida adulta. “Ele mergulhava na própria mente e era fácil perceber que estava em outro mundo”, diz Maye, a mãe do empresário. “Isso ainda acontece. Mas, agora, eu simplesmente não o atrapalho, porque eu não sei se ele está projetando um novo foguete ou algo assim.” E bem que pode estar.
“As pessoas poderão ficar muito tempo com as suas famílias depois que forem à falência”
Aos 17 anos, Musk deixou a África do Sul rumo à América. O primeiro estágio foi o Canadá, onde viveu com parentes maternos. Há um mito que paira sobre a figura do empresário, segundo o qual ele teria deixado Pretória para evitar servir o Exército em pleno apartheid. O fato é que ele acalentava havia anos o desejo de migrar. Com 19 anos, entrou na Universidade de Ontário. Depois de dois anos, atingiu seu real objetivo. Ele se mudou para os Estados Unidos, onde cursou física e administração na Universidade da Pensilvânia, uma das top 10 instituições de ensino superior americanas. Depois, iniciou um doutorado na Universidade de Stanford, no coração do Vale do Silício. Desistiu, no entanto, no segundo dia de aulas. Desde então, começou a empreender.
Os rituais de passagem
As duas primeiras investidas de Elon Musk no mundo corporativo tiveram como palco a internet e o fizeram milionário. Por mais espetaculares que soem, contudo, entram no currículo do “desbravador” como rituais de passagem, campos de teste. Foi nelas que o jovem empresário aprendeu a lidar com toda a sorte de problemas operacionais, além das permanentes discussões com investidores e funcionários.
O primeiro negócio, iniciado com o irmão Kimbal, em 1995, foi o Zip2, uma espécie de guia de empresas pela internet, usado por veículos de comunicação como o The New York Times, para comercializar anúncios. Os irmãos Musk venderam o Zip2 por US$ 307 milhões para a Compaq, então uma potência na fabricação de computadores. Elon recebeu US$ 22 milhões. A segunda aposta na web foi bem mais rentável. Em 1999, o empresário fundou a X.com que, posteriormente, deu origem ao PayPal, o serviço de pagamentos pela web. A empresa foi vendida para o eBay, em 2002, por US$ 1,5 bilhão, sendo que o sul-africano embolsou US$ 165 milhões. Ele poderia ter-se aposentado ali, com pouco mais de 30 anos e milionário. Mas o jogo estava apenas começando.
Elon Musk cultivava havia anos o desejo de conquistar o espaço. Era visto com frequência devorando livros com títulos herméticos como Rocket Propulsion Elements, Fundamentals of Astrodynamics e Aerothermodynamics of Gas Turbine and Rocket Propulsion. No dia em que a equipe do PayPal saiu para comemorar a venda da empresa, ele foi flagrado em um canto da festa lendo um manual soviético sobre foguetes. Um ano antes, em 2001, chegou a ir a Moscou para comprar um míssil balístico intercontinental, com o qual pretendia iniciar os seus negócios na estratosfera, mas a tentativa não deu certo. Musk, então, decidiu construir um foguete, criando a tecnologia do zero, o que incluía a plataforma de lançamento e o motor. Ambicioso, o “Genius Boy” acreditava que poderia cortar custos das viagens espaciais, construindo naves menores, especializadas em carregar pequenos satélites e carga para pesquisa. O inacreditável foi que conseguiu.
Passeios de McLaren F1
Em junho de 2002, Elon Musk fundou a Space Exploration Technologies, a SpaceX, com um investimento de US$ 100 milhões do próprio bolso. A primeira sede da companhia foi em um depósito em El Segundo, um subúrbio de Los Angeles. Tinha 7 mil metros quadrados (o tamanho de um campo de futebol oficial), espaço suficiente para o empresário rodar com a sua McLaren de Fórmula 1, cor prata.
Ali, o empreendedor também exigia verdadeiros milagres de sua equipe. Queria, por exemplo, que uma peça (uma bomba para um motor) fosse construída em menos de um ano por US$ 1 milhão. A Boeing, para realizar um projeto similar, gastaria US$ 100 milhões em cinco anos. O fato é que, no fim das contas, a SpaceX reduziu em 90% o seu custo de lançamento de foguetes, em comparação com o ônibus espacial da Nasa. Pratica preços similares aos dos russos e – o que é mais surpreendente – aos dos chineses. Com isso, consolidou-se com uma companhia lucrativa e avaliada em US$ 12 bilhões. Agora, o grande salto tecnológico perseguido pelo empreendedor é criar foguetes reutilizáveis, que possam fazer mais de uma viagem ao espaço.
“Eu trabalho 100 horas por semana. Se as pessoas têm jornadas de 40 horas, isso quer dizer que vou fazer em quatro meses o que elas levam um ano para concluir”
O espantoso é que Elon Musk tocou o negócio espacial ao mesmo tempo em que desenvolvia os carros elétricos. A Tesla Motors foi fundada em 2003, com um aporte de US$ 70 milhões, um ano após a SpaceX. Na fábrica de veículos, o empresário também exigia o máximo – e, não raro, muito além disso – dos seus funcionários. Comportava-se como um tirano. Certa vez, repreendeu por e-mail um integrante do time da Tesla. O motivo da bronca: o rapaz não comparecera a um evento da companhia, pois o seu filho acabara de nascer. Musk escreveu: “Não há desculpa. Estou extremamente desapontado. Você precisa ter clareza sobre as suas prioridades. Estamos mudando o mundo e a história. Ou você tem um compromisso com isso ou não tem”.
Um “samurai” que não admite o fracasso
Isso choca. Mas não é menos do que Musk exige dele mesmo. “Minha mente funciona como a de um samurai”, disse a um investidor. “Eu preferiria cometer hara-kiri a fracassar.” Ou ainda: “Se fosse possível não comer, poderia trabalhar mais. Meu desejo é ingerir alguns nutrientes, ficar bem alimentado, sem precisar parar para uma refeição”.
Hoje, a Tesla Motors está sob forte pressão no mercado, até mesmo por conta da queda do preço do petróleo e da revolução provocada pelo gás de xisto na matriz energética americana. Fatos que tornam as fontes fósseis de energia ainda mais competitivas. Mas é inegável que ela abriu um mercado – outra manifestação do efeito “puxa a fila”, produzido pelo empreendedor sul-africano. A companhia começou a produzir um modelo de superluxo, um roadster conversível, com poucas unidades. Ele custava US$ 100 mil.
“Eu preciso encontrar uma namorada. Para isso, necessito de mais tempo. Talvez umas cinco ou dez horas a mais por semana”
Entendeu, nesse processo, o que era a tecnologia e o que os clientes queriam. Depois veio o segundo estágio: um sedã, o Model S, mais barato, US$ 70 mil, mas igualmente requintado. Agora, deve lançar um utilitário esportivo, o Model X. O grande projeto da Tesla, no entanto, é entrar no mercado de massas até 2017, com um automóvel mais barato, vendido por um preço entre US$ 30 mil e US$ 35 mil. O problema é que, ao desbravar esse segmento de elétricos, a empresa atraiu concorrentes de peso. A fila inclui nomões como a GM, a Nissan, a Porsche, a BMW, a Audi, a Mercedes e, eventualmente, até a Apple, que estaria preparando uma versão de um carro movido a eletricidade.
Ele quase faliu
Hoje, não se pode dizer que o império de Elon Musk esteja consolidado, embora não seja menos do que notável. O empresário é um tomador de risco nato. Tanto é assim que, em 2008, no auge da crise econômica mundial, a sua aventura quase naufragou. Esse período está narrado em detalhes no livro Elon Musk, Tesla, SpaceX, and the Quest for a Fantastic Future, lançado no mês passado nos Estados Unidos pelo jornalista Ashlee Vance.
À época, Musk tentava se equilibrar entre iniciativas tão radicais como ir para o espaço por custos ínfimos e inventar a indústria de veículos elétricos no planeta Terra. Além dos problemas intrínsecos a essas iniciativas, que não devem ser triviais, o mundo vivia em plena recessão e ninguém dava bola para foguetes e roadsters movidos a baterias de íon de lítio.
Faltava dinheiro à Tesla, por exemplo, para saldar a folha de pagamentos. Musk era obrigado a recorrer a amigos para quitá-la. Enviava argumentos apaixonados para quem pudesse ajudá-lo. Bill Lee, um colega rico, investiu US$ 2 milhões, e Sergey Brin, cofundador do Google, aplicou US$ 500 mil. Kimbal, o irmão de Elon, vendeu o que tinha para colocar na companhia.
“Esta é minha lição sobre tirar férias: elas podem te matar”
( depois de uma viagem à África do Sul, onde musk contraiu malária)
Para piorar o quadro, a vida pessoal de Musk desmoronou. Em 2000, ele casou pela primeira vez com uma escritora canadense, Justine Wilson, que conhecera na universidade no Canadá. Teve seis filhos. O primeiro, Nevada, faleceu com dez meses, vítima da Síndrome da Morte Súbita Infantil. Depois, vieram gêmeos e trigêmeos. Em 2008, no auge da crise corporativa da Tesla e da economia americana, Elon e Justine se separaram. Ela criou um blog para tornar públicas as desavenças do casal. (Depois disso, Musk casou e separou mais duas vezes, mas com a mesma mulher: a atriz britânica Talulah Riley. Hoje, está solteiro.)
No meio de toda essa confusão, a SpaceX e a Tesla foram arrancadas da falência no bico do corvo. A salvação veio nos minutos finais da prorrogação e, como dizem os torcedores de futebol, por um “gol espírita”. Em dezembro de 2008, a SpaceX venceu a disputa por um contrato de US$ 1,6 bilhão com a Nasa, para a realização de 12 voos de abastecimento da Estação Espacial Internacional. Isso foi em 23 de dezembro, antevéspera de Natal. Antonio Gracias, um investidor tanto da Tesla como da SpaceX, comentou: “Musk tem a habilidade de trabalhar duro e aguentar mais estresse do que qualquer pessoa que jamais conheci. Mesmo sob pressão, era capaz de tomar decisões racionais e com uma análise de longo prazo”.
Uma tacada de mestre
Agora, a nova investida de Elon Musk no campo das baterias residenciais é crucial para fomentar os negócios da Tesla, mais frágil atualmente do que a SpaceX. A lógica é a seguinte: o empresário quer lançar um veículo elétrico de massas até 2017. Para isso, o preço das 7 mil baterias que vão mover cada um desses carros precisa cair. Elas são o componente mais caro e crítico desses automóveis.
Para reduzir o seu valor, Musk planeja aumentar a escala de produção desses produtos. Assim, firmou uma parceria com a Panasonic para construir uma indústria de baterias nas imediações de Reno, no estado americano de Nevada. Ela foi batizada de Gigafábrica (Gigafactory, no original). O investimento foi calculado em US$ 5 bilhões.
“Quando deixei o PayPal, eu não pensava na melhor maneira de fazer dinheiro, mas, sim, no que eu poderia fazer para interferir no futuro da humanidade”
É neste ponto que entram a Powerwall e a PowerPack. Elas podem girar a roda toda, criando demanda para a Gigafábrica e, com isso, viabilizando a redução do custo das baterias e, por consequência, dos carros elétricos. “As novas baterias parecem ser muito mais uma solução para os negócios de Musk do que para a mudança da matriz energética em escala global”, diz o físico José Goldemberg, um dos maiores especialistas em energia no Brasil. “Na verdade, ele encontrou uma grande utilidade para uma tecnologia que já existe, que ele já tem dentro de casa, e que agora pode vender muito mais.” Se for assim, Elon Musk, esse misto de Henry Ford e Isaac Asimov, não dará menos do que uma nova tacada de mestre.
Um dos pulos de gato de Elon Musk na produção dos veículos elétricos foi usar baterias existentes no mercado, em vez de desenvolver uma nova. A GM optou pelo caminho inverso e enfrentou problemas. A Tesla optou pela tecnologia de íon de lítio, a mesma usada em computadores e celulares. Ela foi lançada no mercado pela Sony, em 1991. Por ser pequena e recarregável, inaugurou uma revolução entre os aparelhos eletrônicos. Não representa, contudo, o estado da arte do armazenamento de energia. Longe disso. Os especialistas acreditam que a sua capacidade só pode aumentar em 30%. O avanço das baterias tem um limite intransponível. Ele é imposto pelo tipo de material que as compõe. Essa condição determina a quantidade de energia que são capazes de reter. Hoje, pesquisadores avançam em todo o mundo sobre diversas rotas para criar um produto mais eficiente. Uma dessas experiências foi narrada no livro The Powerhouse, lançado no fim de abril pelo jornalista Steve Levine.
Pedro Carvalho