As diferenças entre aceleradora e incubadora e qual delas pode oferecer o melhor apoio de acordo com o estágio de desenvolvimento em que sua empresa está.
O paulista Paulo Rogério Vieira, de 40 anos, começou como muitos empreendedores — apenas com uma ideia na cabeça e um papel na mão. Comprador compulsivo de lojas online (definição que Vieira deu a si próprio), ele sentia falta de um serviço que permitisse fazer compras em mais de uma loja sem ter de mudar de site.
Assim nasceu o Ningo, uma plataforma que permite adquirir produtos de diferentes lojas usando o mesmo carrinho. Vieira encontrou no Cietec, incubadora ligada à Universidade de São Paulo, apoio para estruturar o negócio. Os coordenadores do Cietec o ajudaram a contratar funcionários e a adaptar o serviço para tablets e TV digital.
“Por três anos, o Ningo era uma salinha onde só cabiam mesa e computador”, diz Vieira. “O lugar era pequeno, mas a ajuda foi grande.” Em 2011, o Ningo não era mais um bebezinho. O site estava no ar e as primeiras parcerias tinham sido fechadas. “Era hora de dar o segundo passo e ganhar mais clientes”, diz Vieira.
Para isso, ele precisava de capital, mas não era fácil obtê-lo apenas por meio do Cietec. “Pedi ajuda a uma aceleradora”, diz. Lá, Vieira se preparou para negociar com investidores. No início de 2012 conseguiu um aporte de um fundo de investimento — hoje o site dá acesso a grandes clientes, como Livraria Saraiva e Ricardo Eletro.
Empresas que começam em incubadoras não são exatamente uma novidade — no Brasil existem cerca de 380 delas, de acordo com a Anprotec, associação que reúne essas instituições. Casos como o de Vieira — cuja empresa começou dentro de uma incubadora e foi “promovida” a aceleradora — são mais recentes.
As aceleradoras — um tipo de instituição de apoio a novos negócios que já deram os primeiros passos — são comuns nos Estados Unidos. No Brasil, elas começaram a surgir de dois anos para cá, geralmente fundadas por empreendedores mais experientes ou investidores.
É provável que histórias como as de Vieira se tornem muito mais frequentes daqui por diante. Não param de surgir novas aceleradoras no país. “Não existe uma contagem oficial, mas estima-se que já existam umas 20”, diz Rafael Duton, fundador da 21212, aceleradora com sede no Rio de Janeiro que apoia negócios que usam a internet como base de operação.
Criadas na década de 90 nos Estados Unidos, as aceleradoras chegaram ao Brasil atraídas pela recente explosão de negócios inovadores que está acontecendo no país. “Estamos formando uma estrutura de apoio a empresas iniciantes parecida com a que existe nos Estados Unidos”, diz Anthony Eigier, diretor da aceleradora paulista Tree Labs.
O dilema de quem empreende é saber quando e qual dos dois tipos de instituição de apoio procurar. “De modo geral, as aceleradoras exigem pelo menos um demo do produto ou serviço a ser aperfeiçoado enquanto a empresa está sendo acelerada”, diz Duton. As incubadoras costumam ser mais flexíveis.
Na maioria delas, não é necessário apresentar de imediato um plano muito claro de como a ideia será transformada em negócio. “Acolhemos tanto o jovem estudante que não sabe por onde começar quanto o executivo que detectou uma oportunidade, abandonou a carreira e quis abrir o próprio negócio do zero”, diz Sérgio Risola, diretor do Cietec.
Do lado do empreendedor, o que interessa é saber se a instituição disposta a recebê-lo tem condições de ajudar a empresa no estágio de crescimento em que está. Nas aceleradoras, investidores, executivos e empreendedores trabalham voluntariamente como mentores.
“Eles sugerem mudanças pontuais para dar a um produto ou serviço o apelo de vendas necessário”, diz Júlia Zardo, gerente do Instituto Gênesis, incubadora ligada à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. “Os profissionais das incubadoras estão mais concentrados em aspectos básicos de gestão, como controle financeiro e desenvolvimento de campanhas de marketing.”
Era esse apoio inicial que a engenheira Leila Jansen, de 54 anos, precisava para colocar de pé a Chem4u, pequena empresa do setor químico instalada no Cietec. Leila tinha uma carreira em empresas desse mercado, como Saint-Gobain e Rhodia. Em 2008, ela e o marido, José Ulisses Jansen, também engenheiro químico, decidiram transformar uma tese de doutorado dele em produto.
O casal foi aceito pela incubadora da USP. “Recebemos consultoria jurídica, contábil, de recursos humanos e de marketing”, diz Leila. “É uma ajuda fundamental para quem vem da área técnica e não tem experiência nenhuma em gestão.”
A Chem4u faz uso de pesquisas de nanotecnologia para desenvolver vernizes antibactericidas, que podem ser usados para imunizar locais de fácil contaminação, como superfícies de madeira e paredes de hospital. “Em 2013, vamos iniciar a comercialização dos primeiros produtos”, diz Leila.
A infraestrutura oferecida por incubadoras e aceleradoras também é um ponto importante de análise. Numa aceleradora, normalmente o espaço físico parece um centro de convivência. “O dia costuma ser preenchido com palestras, workshops e reuniões relâmpago”, diz Carlos Pessoa, diretor da Wayra, aceleradora mantida em 12 países pelo grupo Telefônica/Vivo.
As incubadoras costumam manter convênio com laboratórios de universidades — algo fundamental para negócios que demandam pesquisas, como os das áreas de biotecnologia, medicina e saúde, meio ambiente e eletroeletrônica.
A duração do apoio também pesa na escolha entre os dois formatos. Numa incubadora a ajuda pode se estender por até quatro anos. “É um prazo bom para negócios que dependem de criar novas tecnologias ou da regularização de documentos e licenças governamentais que demoram meses para sair”, diz Risola.
Nas aceleradoras, o prazo costuma variar de três a seis meses, no máximo. “Trabalhamos contra o tempo”, diz Pessoa, da Wayra. No escritório da Wayra de São Paulo, há dez startups. Pendurado no teto, há um relógio com contagem regressiva — quanto falta para a turma se “formar” e continuar os negócios por conta própria.
As incubadoras cobram aluguel pelo uso do espaço e pelas assessorias prestadas — os valores são, em média, 40% abaixo dos de mercado. Depois que saem da incubadora, os empreendedores precisam colaborar com os que entram. “Empresas que conquistam independência passam a contribuir com uma taxa que geralmente varia de 1% a 3% do faturamento”, diz Júlia, do Instituto Gênesis. “O subsídio deve ser pago por um período idêntico ao que a empresa ficou incubada.”
A dinâmica das aceleradoras é outra. Elas se tornam sócias do empreendimento que apoiam e ficam com uma participação acionária, que costuma variar de 5% a 20%. Se a empresa de fato acelerar, elas fazem um aporte (ou ajudam a encontrar quem o faça). Se a empresa não for para a frente, a aceleradora que assumiu o risco não cobra nada pela estrutura nem pelas consultorias.
Quem tentar se filiar a uma incubadora ou a uma aceleradora pode descobrir que, às vezes, elas não obedecem a 100% das características descritas até aqui. Há incubadoras que podem aceitar, por algum tempo, uma empresa mais desenvolvida e aceleradoras que abraçam negócios menos maduros do que o ideal.
No caso de donos de empresas já incubadas, a hora de mudar de “escola” também não é resultado de um cálculo exato. Depende de uma junção de fatores — se o produto está pronto para ir ao mercado, a eficiência da gestão e a necessidade de capitalização do negócio. O normal é que um desses indicadores se sobreponha.
No caso de Vieira, do Ningo, foi a necessidade de buscar investidores. Para outros, o fator preponderante pode ser o grau de desenvolvimento do produto. Em comum, são negócios que não estão mais na fase zero.
“Eu não imaginava minha empresa dentro de uma incubadora porque já tenho um produto quase pronto”, afirma Maurício de Almeida, de 35 anos, fundador do site Recruto, que ajuda profissionais de RH a administrar e a divulgar vagas de emprego. “O que eu mais precisava era de bons contatos para me apresentar a investidores e conseguir marcar reuniões com possíveis clientes.”
O sistema da Recruto concentra numa única tela o recebimento de currículos vindos de vários canais — LinkedIn, anúncios, cartazes em universidades. Em julho de 2012, Almeida passou no processo seletivo da primeira turma da aceleradora Tree Labs, que selecionou cinco empresas iniciantes para trabalharem juntas por seis meses num sobrado do bairro de Higienópolis, em São Paulo. Cada uma recebeu um primeiro aporte de 11.000 reais, suficientes para pagar algumas contas.
Almeida acredita que as conversas com outros empreendedores e o contato intenso com os mentores são um dos pontos mais atrativos de uma aceleradora. “Foi por indicação de um mentor que busquei headhunters para oferecer minha ferramenta”, diz Almeida. “Antes eu só procurava multinacionais.”
A Recruto ainda não gera receitas, mas 30 possíveis clientes estão testando a ferramenta. O estágio de Almeida na Tree Labs acaba neste mês. “Estou ansioso para saber o que vai acontecer depois”, diz Almeida. O último dia do programa está reservado ao demo-day (“dia da demonstração final”, em português), evento em que todos apresentam os resultados obtidos. A plateia não poderia ser mais adequada: investidores que querem colocar dinheiro em negócios promissores.
– Bruno Vieira Feijó
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The differences between accelerator and incubator and which of them can offer the best support in accordance with the stage of development where their company is.
The São Paulo Rogério Paulo Vieira, 40, began like many entrepreneurs – with only one idea in his head and a paper in his hand. Shopaholic online stores (definition Vieira gave himself), he missed a service that allows shopping at more than one store without having to change your site.
Thus was born the Ningo, a platform that lets you purchase items from different stores using the same cart. Vieira found in Cietec, incubator attached to the University of São Paulo, support to structure the deal. The coordinators of the Cietec helped hire employees and tailor the service to tablets and digital TV.
“For three years, the Ningo was a small room where only fit desk and computer,” says Vieira. “The place was small but the help was great.” In 2011, the Ningo was no longer a baby. The site was in the air and the first partnerships had been closed. “It was time to take the second step and win more customers,” said Vieira.
For this, he needed capital, but it was not easy to get it only through Cietec. “I asked for help to an accelerator,” he says. There, Vieira prepared to negotiate with investors. In 2012 secured a contribution of an investment fund – currently the site gives access to large customers, as Saraiva and Ricardo Eletro.
Companies that start in incubators are not exactly a novelty – in Brazil there are about 380 of them, according to Anprotec, an association that brings together these institutions. Cases like Vieira – whose company started in an incubator and was “promoted” the accelerator – are more recent.
The accelerator – a type of institution to support new businesses that have already taken the first steps – are common in the United States. In Brazil, they began to appear two years ago, often founded by experienced entrepreneurs or investors.
It is likely that such stories as Vieira become much more frequent from now on. No stop to rise further accelerators in the country. “There is no official count, but it is estimated that there are now about 20,” says Rafael Duton, founder of 21212, accelerator based in Rio de Janeiro that supports businesses that use the internet as a base of operation.
Raised in the 90 United States, the accelerator arrived in Brazil attracted by the recent explosion of innovative business that is happening in the country. “We are forming a support structure for startups like what exists in the United States,” says Anthony Eigier, director of São Paulo Tree Labs accelerator.
The dilemma of who undertakes is to know when and which of the two types of institution seek support. “Overall, the accelerator require at least a demo of the product or service being improved while the company is accelerating,” says Duton. The incubators are usually more flexible.
In most of them, it is not necessary to submit immediately a very clear plan of how the idea will be transformed into business. “We welcome both the young student who does not know where to start as the executive who found an opportunity, he abandoned his career and wanted to open his own business from scratch,” says Sérgio Risola, director of Cietec.
On the side of the entrepreneur, what matters is whether the institution willing to receive him in a position to help the company in growth stage you are on. In accelerators, investors, executives and entrepreneurs as mentors work voluntarily.
“They suggest specific changes to give a product or service’s appeal necessary sales,” says Julia Zardo, manager of the Genesis Institute, an incubator attached to the Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro. “The professionals of the incubators are more focused on basic aspects of management such as financial control and development of marketing campaigns.”
That was the initial support engineer Leila Jansen, 54, needed to put up the Chem4u, small company in the chemical sector in Cietec installed. Leila had a career in this market companies such as Rhodia and Saint-Gobain. In 2008, she and her husband, Ulysses Joseph Jansen, also a chemical engineer, decided to turn a doctoral thesis in his product.
The couple was accepted by the incubator of USP. “We have received legal advice, accounting, human resources and marketing,” says Leila. “It is a fundamental help for those coming from the technical area and has no experience in management.”
The Chem4u makes use of nanotechnology research to develop antibacterial varnishes, that can be used to immunize sites easy contamination, such as wood surfaces and walls of a hospital. “In 2013, we will start marketing the first product,” says Leila.
The infrastructure offered by incubators and accelerators is also an important point of analysis. In an accelerator, usually the physical space like a community center. “The day is usually filled with lectures, workshops and meetings lightning,” says Carlos Pessoa, director of Wayra, accelerator held in 12 countries by Telefonica / Vivo.
Incubators usually keep covenant with university labs – something essential for businesses that require research, such as the areas of biotechnology, medicine and health, environment, and electronics.
The duration of support also weighs in choosing between the two formats. An incubator aid can be extended for up to four years. “It’s a good time for businesses that depend on creating new technologies or settlement of government documents and licenses that take months to get out,” says Risola.
In the accelerator, the term usually ranges from three to six months at most. “We worked against time,” says Person, the Wayra. Wayra’s office in São Paulo, ten startups. Hanging from the ceiling, there is a countdown clock – how far the class is “form” and continue the business on their own.
The incubators charge rent for the use of advisory services provided by space and – values are on average 40% below market. After they leave the incubator, entrepreneurs need to collaborate with those who enter. “Companies that gain independence begin to contribute a fee that generally ranges from 1% to 3% of sales,” says Julia, Institute of Genesis. “The allowance is payable for a period equal to what the company was incubated.”
The dynamics of accelerators is another. They become members of the enterprise who support and are left with an equity stake, which usually ranges from 5% to 20%. If the company actually accelerate, they make a contribution (or help to find those who do). If the company does not go ahead, the accelerator that took the risk not charge anything for the structure or by consultants.
Whoever tries to join an incubator or an accelerator may find that sometimes they do not obey 100% of the features described here. There are incubators that can accept, for some time, a company developed more embracing and accelerating business less mature than ideal.
In the case of business owners already incubated, the time to change “school” is not the result of an exact calculation. Depends on a combination of factors – whether the product is ready to go to market, management efficiency and the need for capitalization of the business. The standard is one of these indicators overlap.
In the case of Vieira, the Ningo, was the need to seek investors. For others, the most important factor may be the degree of product development. In common, they are businesses that are no longer in phase zero.
“I never imagined my business in an incubator because I already have a product almost ready,” said Maurício Almeida, 35, founder of the site recruit that helps HR professionals to manage and disseminate jobs. “What I needed most was good contacts to introduce me to get investors and arrange meetings with potential customers.”
The system focuses on a single screen recruit receiving resumes from various channels – LinkedIn, ads, posters in universities. In 2012 July, Almeida passed the selection process of the first class of accelerator Tree Labs, which selected five startups to work together for six months left in the neighborhood of Jardins, São Paulo. Each received an initial contribution of 11,000 reais, enough to pay some bills.
Almeida believes the conversations with other entrepreneurs and intense contact with mentors are one of the most attractive of an accelerator. “It was at the suggestion of a mentor who sought headhunters to offer my tool,” says Almeida. “Before I just tried multinationals.”
The recruit does not generate revenue, but 30 potential customers are testing the tool. The stage at the Almeida Tree Labs ends this month. “I’m anxious to know what will happen next,” says Almeida. The last day of the program is reserved for the demo-day (“the day of the final demonstration”, in Portuguese), an event in which all present the results. The audience could not be more appropriate: investors who want to put money into promising businesses.